A minha luz

A minha luz
"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

o dia do parto.......


Sim é possível sentir a maior felicidade e a maior tristeza do mundo em simultâneo...
começou 3 dias antes do dia 22, comecei a sentir algumas dores que facilmente identifiquei como contracções, eram o mesmo que dores menstruais nos rins e uma por outra na barriga..... Muito certinhas e incomodas lá passaram a surgir de 6 em 6 minutos. Como ainda estamos a 50Km do Hospital decidimos sair.
Quando cheguei ao Hospital foi confirmada fizemos um CTG, que identificou as ditas contracções e os batimentos cardíacos da Filipa. Passámos a outra fase, a da dilatação, que se veio a concluir que ainda não existia, ou seja, ainda não estava em trabalho de parto.
A médica assistente mandou dar uma "voltinha" e comer uma dilatação leve. Mais tarde vamos confirmar se já havia dilatação, e nada, mas também as dores incómodas desapareceram um pouco..... por via das duvidas e por ter completado as 40 semanas nesse mesmo dia, sábado, pernoitei no Hospital. A noite foi horrível, as dores voltaram a incomodar e passei a noite em claro..... No Domingo de manhã repeti o CTG e embora houvesse registo de contracções não havia dilatação. Continuamos para segunda de manhã, mais um CTG, tudo bem, algumas contracções mais fortes mas nada de dilatação.
O medico assistente aborreceu-se de esperar e mandou-me para casa, para estar numa cama com dores então também podia ficar em casa. Como sou bem mandada vim para casa, comi e fui dormir um pouco porque desde a noite de quinta que não pregava olho, durante a noite com dores, durante o dia dores e reboliço...
Acordei 2 horas depois com uma dor fortíssima, comecei a trepar pelas paredes com dores nos rins e na barriga de 10 em 10 minutos. O meu marido chegou a casa e achou que devíamos ir de imediato para o Hospital, tentei aguentar mais um pouco porque já estava traumatizada com tanto tempo lá enfiada numa cama....
As contracções já se contavam de 5 em 5 minutos e decidimos partir, o caminho foi horrível, não sabia bem onde me agarrar ou se devia bater com a cabeça para atenuar aquela imensa dor e pensar noutra. Chegada ao Hospital o Zé deixou-me na urgência e foi arrumar a carrinha, trouxe o meu saco e o da Filipa e lá fomos nós para a maternidade........
Quando foi feito o exame de dilatação tinha 2 cm, ainda faltava um bocadinho até à epidural.... mas pronto, temos que aguentar... O problema surge quando eu me apercebo que medica e enfermeira trocam comentários como: "Parece-me que temos uma gravidez de Mé"....... Eu subentendi que haveria mecónio no liquido amnióico....... queria perguntar mas as dores que sentia não me deixaram elaborar grande coisa.
Passámos para outra sala para fazer CTG e aí deu-se o pior, algo não estava bem mas também ninguém me disse nada. O Zé teve que sair á meia-noite da sala e aguardar que alguém o chamasse para assistir ao parto. Em 5 minutos tudo mudou, afinal íamos descer para o bloco operatório para cesariana de urgência. Cheguei ao bloco num instante, conclui que realmente havia algo de errado e só podia ser aquilo mesmo, a minha filha estava em sofrimento e não havia tempo para parto normal.......
O Zé foi avisado para esperar á porta da bloco, iria ver passar a bébe. Eu levei anestesia geral e apaguei.
Passado meia hora a Filipa nasceu, eu só vim a acordar ás 2 da manhã.
O Zé estava á porta do bloco mas achou estranho passar uma incubadora para dentro, afinal se a nossa bébe é grande e sem problemas o mais certo é ser para outra pessoa....
Algum tempo depois sai a incubadora, com um bébe, um pediatra a reanimar e umas enfermeiras. Havia alguns comentários como: "Isto tá complicado!!!!"
O Zé dirigiu-se á enfermeira e perguntou por mim e pela filha, o pior foi quando lhe responderam que aquele bébe que seguiu na incubadora a ser reanimado e que originava comentários tão pessimistas entre a equipa era o nosso. Caiu o mundo...... caiu tudo, porquê??? o que aconteceu??? são perguntas que nos limitámos a fazer até nós próprios e sem resposta.
A enfermeira explicou de uma forma bastante evasiva o que aconteceu "mas hoje já não adianta ficar aqui, a sua esposa pode levar muito tempo a acordar e amanhã logo pelas 9:00h vai á neonatologia e fala com os pediatras......" E ponto.
Eu assim que acordei tive a sensação de me estar a afogar, sem conseguir respirar e sem conseguir tossir porque estava cheia de dores. Se foi 1 minuto então esse minuto foi uma eternidade.... Eu recuperei e perguntei de imediato: "A Filipa"??????
" A Filipa deve ser a sua filha não???" Eu respondi que sim, e a enfermeira respondeu de uma forma bem distante. "Ela foi para a neonatologia!" e eu perguntei se depois a iria lá buscar claro, a minha filha deve estar é ao pé de mim. Ela respondeu que não, e quando e voltei a insistir no que é que aconteceu a enfermeira livrou-se dizendo que: "Eu não estava lá dentro, não sei o que se passou".... Perguntei só se por acaso o meu marido sabia que a Filipa foi para a neo, ela repondeu que sim que estava á porta quando ela saiu.
Fui para o quarto, ao fim de alguma insistência a enfermeira de obstetrícia que me foi buscar lá me explicou mais qualquer coisa. A Filipa aspirou mecónio, muito mecónio, nasceu em paragem e foi levada para a neo.
O meu telefone tinha ficado com o Zé, que por acaso ainda me iria ver na hora do parto.... Estava em pânico. foi um turbilhão de sensações e era tal a adrenalina que não havia dores nem sonolência nem vestígios de uma cirurgia.
Assim que clareou toquei a campainha, queria levantar-me e precisava de ajuda. As enfermeiras de inicio não queriam mas rapidamente cederam. Ou isso ou vou sozinha.......
Lavei-me o mais que consegui e fiquei sentada na cama á espera do pequeno-almoço, não podia sair de lá sem o tomar. Chegou ás 9:30h, parecia uma eternidade, pedi também por favor um telefone para poder ligar ao meu marido, precisava falar com ele o quanto antes.
Ingeri metade do pão e o leite e entretanto ele chegou. Corremos para a neo, quem me viu andar diz que eu não tinha passado por uma cesariana 9 horas antes.....
Assim que me indicaram a incubadora foi a pior sensação da minha vida, impotência, sofrimento, perda, e um aperto no peito que não tem tamanho.......
A nossa filha nasceu em paragem respiratória, foi aspirada, teve muita dificuldade para reanimar e o futuro é imprevisivel.........
3 dias depois ainda não nos habituámos mas encaramos com ânimo a situação, o Zé tem sido o meu pilar ou eu não aguentaria. Tem havido alguma melhoras mas os dias sem ela custam muito a passar. Há momentos que nunca vamos esquecer, a primeira vez que a vimos, a saída do Hospital, o entrar no quarto e ver a caminha dela, o desfazer a mala da maternidade...
Todos os dia são uma conquista e a nossa princesa é forte, nasceu com 3, 460Kg e é linda.

Ganhamos força, coragem e confiança a cada experiência em que verdadeiramente paramos para enfrentar o medo.(Eleanor Roosevelt)

1 comentário:

Pedro Pinto disse...

forte tu és e a tua Filipa tb o será com certeza, aliás, já o prova em pequenina! ;)
bj